quarta-feira, 1 de agosto de 2007

Construir com sustentabilidade

Após décadas de ostracismo, o setor imobiliário vive um “boom” fomentado pela fartura de crédito, desoneração tributária de produtos e investimentos previstos no PAC (Programa de Aceleração do Crescimento). O sonho da casa própria está mais próximo para milhares de brasileiros e o aquecimento desse setor estrutural, que emprega mais de 1,5 milhões de trabalhadores com carteira assinada e responde por 15% do PIB, pode ser o início de um novo círculo virtuoso de crescimento econômico.
Entretanto, as questões ambientais têm motivado discussões acaloradas em todas as esferas sobre o papel e a responsabilidade de cada um em compatibilizar o desenvolvimento com a preservação dos recursos naturais. Surgem ações efetivas e exeqüíveis por parte de governos, empresas e sociedade civil que merecem ser saudadas e respaldadas, em especial, as que versam sobre construção sustentável.
O setor da construção civil e a manutenção da infra-estrutura consomem 75% dos nossos recursos naturais; a quantidade de resíduos de construção e demolição é estimada em torno de 450 kg por habitante/ano, ou 80 milhões de toneladas/ ano; a construção indistinta causa a redução da permeabilidade do solo, mudando o sistema de drenagens, ocasionando enchentes e reduzindo as reservas de água subterrânea; vêem aumentado à liberação de gases de efeito estufa e a contaminação do solo; a operação de edifícios é responsável por 18% do consumo total de energia do país e 50% do consumo de energia elétrica; os edifícios gastam 21% da água consumida no Brasil, sendo que boa parte é desperdiçada. Os alertas partem do Conselho Brasileiro de Construção Sustentável e encontra eco junto à Associação Brasileira dos Escritórios de Arquitetura, a Eletro-Procel e a Fiesp.
É fato que os novos empreendimentos devem primar pelo modelo sustentável de construção: utilizar menos recursos naturais, estimular o uso racional da água (captação de água pluvial; reuso da água), gerar menos resíduos e buscar uma maior eficiência energética – estes temas foram amplamente debatidos no I Seminário Internacional – “Promovendo Construções e Reformas Sustentáveis na Cidade de São Paulo”. Uma iniciativa conjunta da Prefeitura do Município de São Paulo, da Secretaria Municipal do Verde e do Meio Ambiente e demais entidades.
O momento exige um novo modo de atuação que privilegie a sustentabilidade em todos os seus aspectos. A variada legislação aplicada ao setor da construção, com destaque para os códigos de obra, não contribui e, por vezes, limita o investimento em práticas de sustentáveis nas construções. A mesma dificuldade existe com as normas técnicas de materiais e processos. Além disso, a construção civil tem baixa tradição em inovação tecnológica, por isso o novo mercado ecoeficiente vai exigir o desenvolvimento contínuo de uma grande variedade de novos produtos e processos, que sejam adequados às diferentes realidades do País.
Em relação à avaliação de edifícios, existem experiências internacionais de sucesso, como: o sistema americano LEED; o inglês BREAM e os franceses HQE e H&E. Estas servem de referência, mas precisamos de um sistema próprio de avaliação.
Além disso, é necessário avaliar também as diferentes fases do processo construtivo (planejamento, operação e construção) e metodologias de análise de produtos, tais como o ISO 14025. Já há uma gama de produtos sustentáveis que podem substituir os convencionais usados em coberturas, paredes, alvenaria, pisos, instalações, estrutura e acabamento. No entanto, eles não são vendidos em lojas de materiais de construção.
O Brasil carece de potencializar o conceito de construção sustentável, aliada uma legislação específica sobre para promover a eficiência, seja na área energética, na construção civil e em todos os processos produtivos. Privilegiando assim, a inovação e os processos mais limpos capazes de colocar o país na vanguarda das iniciativas socioambientais.

José Valverde – Especialista em Meio Ambiente

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